quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Cheiros e recordações. Crônica por Edna Costa.

Às 4a.feiras entro muito cedo no trabalho. Sempre saio de casa em cima da hora e, sonolenta, sigo para mais um dia de trabalho puxado. Observo as pessoas à minha volta e noto que todos seguem apressados em direção ao metrô. Também sigo em ritmo acelerado até sentir o cheirinho dos pães assando ou acabados de sair do forno. Desacelero minha caminhada e sorrio ao relembrar fatos passados da minha tão longínqua infância.

Lembro-me dos pães caseiros que minha tia Beatriz fazia quando íamos passar as férias em Sta. Gertrudes (interior de S.Paulo). Levantávamos ainda escuro com o galo cantando e íamos direto para a varanda nos fundos da casa onde havia uma grande mesa retangular com dois bancos compridos, um de cada lado. O sol despontava no horizonte anunciando um dia de calor o que para nós, era uma promessa de muitas "artes" nos pomares e fazendas vizinhas.

Que delicia sentir o aroma do cafezinho passado em coador de pano na "cabrita" (quem lembra?) que era servido no enorme e velho bule de ágata azul com margaridas miúdas desbotadas. Ah! O cheiro dos pães moldados caprichosamente e assados no forno de barro do quintal. Lembro da fumaça saindo da grande leiteira, riscando desenhos no ar. O que eu mais gostava depois dos pães eram os bolos de laranja, caipira ou de fubá que cresciam até rachar no meio, uma belezura de se ver (e comer). Na mesa sempre havia manteiga, queijo fresco, goiabada, doce de abóbora, de marmelo, de laranja, a dura e gostosa rapadura, além outras delicias, tudo devidamente feito por minha tia e suas ajudantes.

Abrando ainda mais o passo e minhas recordações continuam. Fico pensando que aqui onde vivo (EUA) não se fazem pães como os do Brasil! Pão francês leve e crocante... bengalinha... pão italiano do Bixiga... roscas doce... pão doce com mil e um recheios. Que prazer eu sentia ao parar em frente ao balcão da padaria e encher os olhos com tanta variedade. Depois agir como uma criança seduzida por tantas guloseimas: apoiar o dedo no vidro e apontar para a delícia escolhida e lambuzar-me de puro prazer. Que maravilha!

Aqui o visual até que é bonito mas tudo tem muita manteiga, gordura, açúcar, coberturas e recheios artificiais. Sem falar nos pães salgados que são borrachudos e sem graça, com honrosa exceção ao pão português. Sacudo a cabeça vigorosamente para afastar as lembranças e entro na padaria para comprar meu pãozinho, que será meu almoço, depois de devidamente recheado com frios, tomate e alface, os quais levo à parte. Retomo meu caminho, agora apressadamente como os demais e salivo só de pensar no pãozinho francês (ou brasileiro?) crocante por fora e macio por dentro.

2 comentários:

Louca por Doces disse...

Aqui em Portugal o pão é geralmente muito bom mesmo. Em que zona dos States é que você mora? Fiquei curiosa...

Edna Costa disse...

Ah! Essa pergunta já te respondi, né? Bjsssss.