domingo, 20 de março de 2011

Ídolos são de barro.

Crônica por Edna Costa.


Conheci o sr Heitor quando eu tinha uns dezoito anos. Naquela época (e lá se vão algumas décadas) fui trabalhar no escritório de uma metalúrgica de médio porte onde ele era um dos diretores. Eu trabalhava como ajudante de contabilidade e era a única mulher na firma. Todos me respeitavam e até faziam pequenos mimos comigo, por isso eu adorava trabalhar lá.

Eu gostava de todo mundo, mas esse homem me fascinava pela educação, simpatia e pelo sorriso franco e aberto. Ele era um gentleman! Era alto, cheiroso, tinha a pele alva pontuada por pequenas sardas, dentes perfeitos, a barba bem feita, e os cabelos encaracolados estavam sempre aparados como se estivessem sido acabados de cortar.

Os olhos, claros e luminosos, eram marcados por rugas que teimavam em se aprofundar sempre que ele sorria, o que acontecia frequentemente. Poucas vezes eu o vi alterado ou triste em todo tempo que trabalhamos juntos. Com ele aprendi a jogar a cabeça para trás e rir alto, sempre que achava alguma coisa muito engraçada.

Ele era muito bem casado, como gostava de frisar, e tinha um filho já crescido quando o conheci. Sempre que falava na família puxava a carteira e mostrava a foto da mulher e do filho, ambos muito bonitos. Uma das poucas vezes que o vi tenso foi quando alguem fez um comentário jocoso a respeito da família dele. Uma simples brincadeira que o deixou aborrecido e fez com que alterasse o tom de voz.

Mas, esse homem perfeito tinha um segredo que eu descobri quase casualmente: ele tinha uma família clandestina paralela à “social”. Tinha outra mulher e uma filha bastarda, que diziam ser tão bonita quanto o filho legítimo. Soube que ele as amparava, e muito bem, mas a família legitima não sabia de nada, evidentemente.

Esta descoberta foi um choque para mim e meu ídolo se quebrou! Fiquei tão decepcionada, que passei a olhar para ele com um certo desprezo e nossa relação já não era mais tão amigável, o que ele prontamente percebeu.

Ele nunca tocou no assunto sobre o que teria causado essa mudança brusca no meu comportamento, mas simplesmente aceitou isso como um fato consumado e rotineiro da vida.

Algum tempo depois eu saí da firma e nunca mais soube de ninguem de lá, mas ao longo da vida já me deparei com muitos outros homens iguais ao sr Heitor e me peguei pensando; porque??? A resposta, eu acho que nem Freud pode explicar satisfatóriamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Talvez a explicação você encontre se verificar que existem mulheres que tem amante, algumas chegam a engravidar do mesmo,geram o filho, o marido cria e não sabe que o filho geneticamente não é dele.

Edna Costa disse...

Pode ser sim, mas naqueles tempos (ha mais de 40 anos,) isso não era muito comum como hoje. Era mais comum os homens terem casos extraconjugais e muitas vezes as esposas até sabiam e aceitavam, por comodismo e pelo medo de perder a estabilidade. Enfim, desde que o mundo é mundo isso existe. Abs