quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sufoco. Crônica por Edna Costa.

Conheci Maria no metrô. Olhei-a e pensei; já vi essa cara em algum lugar. Ela pareceu pensar o mesmo de mim pois primeiro me olhou de soslaio e depois direta e profundamente. Sorrimos uma para a outra com simpatia e seguimos nossa rotina, eu fazendo minhas palavras cruzadas e ela olhando fixamente para o chão. Fiquei imaginando o que estaria pensando, essa pequenina e intrigante figurinha.

Com o passar dos dias começamos a nos cumprimentar e finalmente um dia conversamos, ela falando do seu emprego, seu país (Mexico), sua família e eu idem. Ficamos amigas de percurso e assim fomos confidenciando pequenos problemas, grandes alegrias, trocando receitas culinárias, etc. Até que dias atrás ela me contou uma história engraçada, que imediatamente se delineou em minha mente de crônista e que repasso para vocês como imagino ter acontecido.

“Era um dia de muita neve e frio extremo. Assim que entravam no metrô as pessoas procuravam um lugar para sentar-se e, ao invés de reclamar do aperto, devido aos grossos casacos de frio, aconchegavam-se uns aos outros para ficarem ainda mais aquecidas. Maria entrou rápidamente e como os demais acomodou-se em um banco de três lugares, onde já estava instalada uma senhora de rosto largo, pele escura, cabelos escondidos por um engraçado chapéu de lã e um chamativo e longo casaco de pele de onça.

Devido ao seu imenso corpo, a senhora ocupava dois lugares, mas a pequenina Maria encaixou-se ao seu lado e a viagem seguiu. Com o balanço do trem e devido ao cansaço, não demorou quase nada para que a volumosa senhora dormisse. Em alguns minutos a cabeça pendeu para o lado de Maria, que primeiro ficou meio incomodada, mas depois se encaixou no pescoço da senhora e assim “ferrou” no sono também.

Acontece que ela teria que descer no meio do caminho, mas o sono foi tão forte que quando ela acordou já havia passado da sua estação. Quis dar um pulo e sair correndo para descer na próxima estação e tomar o trem de volta, mas a mulher continuava dormindo e impedindo que ela saísse da posição em que se encontrava. Cutucou suavemente a mulher que soltou um pequeno grunhido metendo medo em Maria, que por sua vez prendeu a respiração e começou a suar, apesar do frio que entrava toda vez que o trem abria as portas.

Com um leve sorriso a mulher lambeu os lábios grossos, estalando a língua como se estivesse sonhando com algum manjar (e pelo tamanho dela, bota manjar nisso) e reacomodou-se na pobre Maria, agora já apavorada, e recomeçou a respirar pesado de novo, até que finalmente o trem chegou ao destino final. Apesar dos avisos do falante em altos brados, parecia que a mulher iria ficar ali em cima da Maria hibernando até que o inverno acabasse, pois não havia nada que a acordasse.

Resignada a coitada pensou, que apesar das dores que tinha no corpo e pescoço tortos por tanto tempo na mesma posiçao, pelo menos ela teria que voltar de todo jeito e então preparou mentalmente um plano de fuga; quando chegasse em sua estação sairia correndo e deixaria a mulher entregue ao seu destino. Pensando na mulher caindo do banco estreptosamente, começou primeiro a rir baixinho, depois o riso foi se transformando em histeria para finalmente terminar em choro.

De repente percebeu que a mulher a estava olhando boquiaberta e já a havia libertado para levantar. Maria enxugou as lágrimas com medo que ela lhe dirigisse a palavra, quem sabe para tirar satisfações, mas a senhora saiu rápidamente balançando a grande cabeça de um lado para outro, como se Maria fosse um alienígena e ela finalmente relaxou o corpo dolorido pela tensão. O trem avisou que partiria em seguida. Ela estava sentindo-se só e desamparada mesmo no meio de tanta gente, quando um senhor gordinho e simpático veio sentar-se ao seu lado.

Acomodaram-se todos e o trem partiu. Maria dirigiu seus pensamentos para sua casa, um banho quente, um jantar feito às pressas, um bocadinho de conversa para contar a aventura do dia e finalmente sua velha e aconchegante cama recebendo-a para o merecido descanso. Foi quando sentiu a cabeça do gordinho pendendo para seu lado. O trem foi ganhando velocidade, o balanço fatal foi deixando o corpo de Maria mole (rs...) e ela resignadamente preparou-se para recomeçar tudo de novo, mas jurando que desta vez não dormiria.”

Um comentário:

Neide Franco disse...

Oi amiga, pode me enviar o endereço da foto do bolo para nancyfranco55@gmail.com..Obrigada pela visita. Depois voltarei com mais calma para ver seus textos. Parabéns pelo seu tabalho! Beijos