sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

AH! A NEVE! Crônica por Edna Costa.

O inverno chegou e com ele, além do frio congelante, a neve, por quem sou completamente fascinada. Sou capaz de ficar na janela da minha cozinha olhando esse espetáculo por longo tempo.

Os flócos branquinhos caindo em profusão formam um bale, hora alucinante rodopiando ao sabor do vento, hora suave como pedacinhos de algodão soltos ao vento. As árvores, antes carregadinhas de frutos e folhas, agora estão brancas e com os galhos curvados pelo peso da neve.

O cenário lembra cartões de natal ou postais, tal a beleza da brancura que contransta com as outras cores. O telhado de uma casa com um fio de fumaça saindo pela chaminé me chama a atenção. Fico imaginando se esta fumaça seria de uma lareira acesa numa sala aconchegante ou de um fogão onde estariam sendo feitos deliciosos quitutes.

Sinto falta dos passarinhos e do preguiçoso gato amarelo. Em compensação meu quintal recebe a visita de esquilos esfomeados e de gralhas barulhentas piando repetidamente: crau…crau…crau. Perco-me na comparação entre os pássaros de verão e os do inverno. Os de verão são mais refinados na sua algazarra e os do inverno lembram um bando de arruaceiros voltando de uma alegre noitada.

Como sempre este sera um longo inverno. Muitos dirão que odeiam esse tempo e enumerarão os transtornos que nos trazem. Eu sairei muito bem agasalhada para o trabalho, passeio ou compras e procurarei aproveitar, ao invés de reclamar.

Me divertirei enquanto caminho na branca fofura tentando “pisar” nas passadas de outra pessoa ou criando novas trilhas, fazendo guerra de bolas de neve com meus filhos (não importa sua idade, tente para ver que delícia!) ou simplesmente levantando meu rosto para o céu para receber a frieza e maciez dessa maravilha da natureza.

TIC-TAC. Crônica por Edna Costa. Janeiro/2005.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...Escuto o relógio insensível marcando os segundos e fico cismada a pensar: que raio de tempos modernos são estes? Hoje temos inventos, tecnologia e todo tipo de parafernália para - supostamente - nos deixar mais tempo livre, mas o que acontece é exatamente o contrário.

Atualmente ninguém tem mais tempo para nada. A vida parece passar por nós numa velocidade tal que é impossível fazermos tudo o que planejamos. Sempre fica faltando alguma coisa. E acabamos deixando para o dia seguinte ou sabe-se lá para quando.

Levantamos já pensando em tudo o que teremos a fazer naquele dia, trabalhamos preocupados com tantos problemas para resolver e depois de tanta correria...meu Deus! O dia terminou e quanta coisa ficou acumulada! Oh! tempo sem tempo que nunca nos dá trégua.

Mas sabe o que é mais triste nisso tudo? É que na correria do dia-a
dia, acabamos nos esquecendo dos pequenos gestos de
atenção, carinho, amizade e amor que fazem a nós e aos nossos
entes queridos, muito mais felizes.

Foi pensando nisso que tenho cumprimentado amávelmente meu vizinho, mesmo quando saio afobada para o trabalho; procurado ajudar um idoso a pegar um taxi ou atravessar a rua; auxiliar uma mãe às voltas com criança e carrinho numa escada do metrô ou simplesmente escutando alguém solitário que queira desabafar.

E você, já pensou em fazer algo em favor de seu próximo - às vezes tão próximo mas tão ignorado - e assim sentir-se mais feliz? Nao? Então não perca tempo e comece agora mesmo!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

OS FÓRAS QUE JÁ DEI. (Continuação) Crônica por Edna Costa. Dezembro/2004 Costa.

Atendendo a pedidos de pessoas tão ou mais desligadas do que eu, que tal continuarmos a nos divertir com tantos fóras? Vamos lá.

Já chamei várias vezes, meu vizinho de Salmão, quando na verdade o nome dele é Ramon.

Fiz compras numa loja, paguei com cheque e só descobri que não assinei, quando ao chegar em casa, a funcionária da loja ligou para me avisar.

Já cumprimentei pessoas, que depois olhando melhor, percebi nunca ter visto em minha vida.

Já coloquei compras no teto do carro para procurar as chaves ,e fui embora sem me lembrar de pegá-las de volta.

Atendi um orelhão de um ponto de táxi que estava tocando, deixando os taxistas furiosos.

Esqueci o carro na padaria e fui a pé para casa. Só me dei conta do esquecimento, quando o porteiro abriu o portão do prédio...

Desci no andar errado e estava tentando abrir a porta do apartamento alheio, quando o dono saiu e me encarou desconfiado.

Sentei no sofá, em cima do gato da minha amiga, e quase matei o bichano.

E o pior fóra que dei: Fui mexer no computador do meu chefe e desliguei toda a rede de computadores da loja. Perdi o emprego!

Talvez alguém tenha alguns piores para incrementar essa lista mas para mim, basta. Estou satisfeita com minhas atuações desastrosas.

OS FÓRAS QUE JÁ DEI. Crônica por Edna Costa. 08.07.2004.

Quem ainda não deu algum fóra na vida? Pode ter sido por simples distração, cansaço ou por falta de óculos.
Aí vão alguns que vivi e me lembro.

- Já coloquei hipoglós na escova de dentes. (Argh!)

- Pus minha roupa em cima do vaso sanitário sem ver que a tampa estava aberta.

- Passei creme dental em uma assadura num lugar delicado. (Nossa, como ardeu!)

- Lavei o cabelo com o xampú da nossa cachorrinha.

- Coloquei a panela no fogo com água, sal, temperos, coloquei pressão mas, esqueci de colocar o frango.

- Ao invés de pegar o celular, saí de casa levando o telefone sem fio na mão.

- Fui trabalhar com a blusa do pijama.

- Fiz compra no mercado e esqueci o dinheiro em casa.

- Andei quase um dia inteiro com uma fita colada na minha traseira escrito "Free".

- Procurei meu óculos por mais de uma hora estando com ele na minha cabeça.

- Dormi no trem, passei da estação que deveria descer e quando acordei fiquei feito barata tonta sem saber onde estava.

- Freei bruscamente o carro porque pensei que a sombra de um poste fosse um "quebra-molas".

- Comecei discar no controle remoto da tv, achando que estava com o telefone na mão.

E você, já deu algum fóra parecido? Ou tem algum mais engraçado pra contar?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Boêmio. Cronica por Edna Costa. 01/05/2006.

Ele chegou na casa de meus tios, filhotinho ainda. Foi trazido por minha prima dizendo que ele a seguira pelas ruas parando toda vez que ela parava e fitando-a com os grandes olhos tristonhos. O andar trôpego, a magreza e aqueles olhos que pareciam contar sua historia de abandono, tocaram o coração da menina que não teve coragem de entrar e fechar mais uma vez o portão para aquela criaturinha. Meus tios concordaram em adotá-lo e assim ele ganhou uma família.

Depois de um banho e uma boa refeição chegou a hora de escolherem um nome para o cãozinho. Foi uma confusão daquelas e os nomes escolhidos pareciam não combinar nunca com o bicho. Finalmente puseram o nome de “Pretinho”, porque ele era inteiro negro. Aquela primeira noite foi terrível para todos pois o pequeno pôs-se a chorar olhando para a porta da rua e não havia nada que o consolasse.

No dia seguinte ficou decidido que ele dormiria no quintal. Saíram para comprar uma casinha para Pretinho e quando anoiteceu colocaram uma vasilha grande com água perto da sua nova moradia, despediram-se e todos foram dormir. Por volta de onze horas da noite meu tio foi ver como estava Pretinho e, surpresa…ele tinha sumido! Foi outra noite mal dormida pois meus primos e primas estavam inconsoláveis pelo sumiço dele.

No dia seguinte de manhã outra surpresa…lá estava Pretinho dormindo como um anjo. Todos ficaram aliviados com sua volta. A partir daí eventualmente o bicho sumia a noite e ninguém sabia onde ia mas acostumaram-se com esse mistério. O vira-latas ganhou peso, ficou mais bonito e com os pelos brilhantes mas os olhos continuavam tristes.

Depois de algum tempo tiveram que trocar seu nome pois ele não gostava deste e estava disposto a demonstrar sua insatisfação não respondendo quando o chamavam. Vieram outros nomes como Lulu, Totó, Rex mas nada do bicho obedecer. Até que em uma de nossas visitas meu tio contou do sumiço semanal do cachorro e meu pai disse brincando que ele devia ir para a farra. Bingo! Deram o nome de Boêmio para ele que prontamente ergueu a cabeça e balançou o rabo em sinal de contentamento. Assim a vida foi seguindo e Boêmio, já adulto, continuava com seus sumiços esporádicos.

Chegou o dia do casamento da minha prima e a casa estava em polvorosa desde bem cedo. A família sempre foi muito conhecida e estimada na pequena cidade e viria muita gente aliás, acho que a cidade inteira. Seria aquela festa! Primeiro serviriam o almoço e depois viria o “arrasta-pé”. Neste dia, Boêmio desapareceu desde manhã mas todos estavam ocupados demais para se preocupar com isso

Começaram a chegar os comes e bebes, as ajudantes e alguns convidados adiantados (para desespero de minha tia). Ela pediu para suas ajudantes colocarem os doces num quartinho dos fundos e fecharem a porta com a chave. Os noivos foram para o cartório, casaram-se, depois o vigário celebrou o casamento religioso lá na residência mesmo. No almoço todo mundo comeu até fartar-se sem esquecer de deixar espaço para o bolo e os doces.

Tão logo todos terminaram de almoçar, as ajudantes foram buscar os doces para servirem e ao abrir a porta quase desmaiaram! Tinha doce espalhado por todo lado e lá estava Boêmio passando mal depois de ter comido até não poder mais. Ele estivera o tempo todo preso (ou escondido?) no quartinho e pelo jeito assim que fecharam definitivamente a porta, ele caiu de boca nas guloseimas. Foi um Deus nos acuda! Minha tia quase teve um treco! Só se salvou o lindo bolo que havia sido colocado numa mesa bem alta. Sem mais nada a fazer, minha tia recompôs-se, voltou à festa e com elegância anunciou que os doces não tinham passado pelo teste de qualidade do “provador” e só seria servido bolo e champanha.

Naquela noite depois que a festa acabou e os noivos partiram para a lua-de-mel a casa ficou às escuras mas podia-se ouvir Boêmio gemendo baixinho no quintal. Fiquei imaginando o pobrezinho com os olhos tristonhos olhando para dentro da noite sem poder sair com uma tremenda dor de barriga e, creio eu, jurando não comer mais doce pelo resto da vida.

No dia seguinte a vida voltou ao normal na cidade mas demorou muito para que a história fosse esquecida. Até hoje ainda tem alguém que lembra do “causo” e diz que deveriam ter trocado o nome do Boêmio para Guloso.

PEQUENA GIGANTE, O FINAL. Cronica por Edna Costa. 18.08.2005.

Na crônica passada relembrei o drama da família Inoue lutando contra o câncer que atacou o pai, Terushi. Hoje vocês saberão o final da estória. Não falarei de tristezas e sim da união, amor, amizade e solidariedade que cercou essa família.

A família Inoue vive numa cidadezinha limpa e aprazível em Harrison, NJ. A rua larga e sossegada é ladeada por frondosas árvores e perto do comércio principal. A casa branquinha, bem cuidada e com jardineiras na varanda, é uma das mais bonitas - senão a mais bonita - do quarteirão. Caprichos do casal que sempre fez de tudo para melhorar aquele pedacinho aconchegante adquirido com os sacrifícios de uma vida dedicada ao trabalho duro primeiro no Brasil, depois no Japão e agora aqui, nos EUA.

O Terushi é daquelas pessoas que entende um pouco de tudo e que faz as coisas com carinho. Se algo precisa de "reparo" o Terushi conserta. Se precisa trocar o piso, pintar paredes, arrumar instalação elétrica, colocar porta e tudo o mais que se possa imaginar, ele dá conta do recado direitinho. Sua esposa Sueli está sempre por perto como ajudante do "senhor faz-de-tudo". Um casal bonito de se ver e conviver!

Mas o destino não marca hora e o que está escrito se faz cumprir.
A doença chegou e exigiu coragem, desprendimento e a ajuda de todos. Unidos lutaram, choraram, rezaram confiando na bondade de Deus e nunca perderam as esperanças. Mas a missão dele já estava terminada e chegou a hora de entender que o tempo de partir era agora. Terushi partiu sereno, em casa, nos braços da esposa, rodeado por seus filhos Juliane e Mikio e da sobrinha (quase uma filha para eles) Kellen.

A partir daquele momento a casa branquinha ficou com as portas da rua abertas e a demonstração de amizade, solidariedade e amor dos amigos e vizinhos continuou. Pessoas que durante toda a doença estiveram presentes telefonando todos os dias, orando ou rezando, ajudando financeiramente ou simplesmente emprestando seu ombro para que a família se sentisse amparada, começaram a chegar para a despedida final. Eram muitos os amigos.

A cerimônica fúnebre foi realizada na mesma rua em que eles moram. Na hora marcada fomos saindo todos rumo à capela. Não eram grupos de pessoas chorando ou falando coisas tristes. Eram pessoas comentando a bondade e honestidade do Terushi, a valentia da família, os obstáculos vencidos e finalmente o desenlace. Lembrei-me de voltar para colar na porta da rua da casa um cartão com o endereço da capela para as pessoas retardatárias.

A homenagem foi curta e simples. O pastor Valdir leu uma passagem da bíblia e fez um lindo sermão. No final Sueli levantou-se e agradeceu à Deus, à família, aos amigos e a todos por tudo o que fizeram por eles. A pequena gigante agora juntamente com a família preparava-se para uma nova etapa de suas vidas.

Quando tudo acabou saímos e fomos caminhando lentamente. A noite quente e úmida, como convém nessa época do ano, caía aos poucos e ao nos aproximarmos da casa branquinha recortada ao luar Sueli comentou:
- Tudo isso agora será uma lembrança boa do meu marido.
Nesse momento meu coração se encheu de ternura por fazer parte dos amigos dessa família maravilhosa.